sexta-feira, novembro 06, 2009

Um dia com Syd Barrett (parte 1)

Roger, para os íntimos.

Terça-feira, 28 de outubro de 2008, cedo da manhã. Ziguezaguei mal dormido e mal humorado até o carro dez minutos antes do prazo do meu ticket de estacionamento vencer, só para descobrir que já havia sido multado. Esfreguei a ramela do olho, reajustei o foco e olhei ao redor para finalmente enxergar o que me falhou na escuridão da noite anterior: o poste com o aviso dizendo 'NÃO ESTACIONE DESTE LADO DA RUA'. Lembrei-me então de que, ao tentar sair do veículo na noite anterior, bati a porta neste mesmo poste e ainda praguejei algo do tipo 'Quem foi o imbecil que colocou essa merda aqui?'. Pergunta respondida, £120 libras mais pobre, chacoalhei a poeira, dei a volta por cima e decidi que nada estragaria aquele dia especial.


Encontrei-me com o Frank as 11 da manhã do outro lado de Londres e juntos partimos em uma viagem de uma hora e meia para Cambridge, onde rolava o 'City Wakes', evento planejado e realizado pela família e pelos amigos mais próximos de Syd Barrett para celebrar sua vida e sua obra. Se você ainda não sabe quem é esse tal de Syd Barrett, favor clicar no link e ler meu antigo post entitulado, veja você, Syd Barrett


Chegamos em Cambridge atrasados como sempre, estacionamos o carro e corremos como loucos rumo ao ponto de encontro, sem tirar os olhos das direções dadas pelo GPS que Frank segurava firmemente a sua frente. Cinco minutos mais tarde, já sem folego e com aquela dor aguda na lateral do abdômem, resolvemos parar e recalcular a rota, dessa vez lembrando de selecionar a opção 'walking route'. O GPS piscou, calculou e lançou: 'Retorne assim que for possível', indicando que corriamos na direção contrária, obedecendo as leis de trânsito em uma rua de mão única. Trocamos olhares decepcionados e sem forças para reclamar, demos meia volta e mancamos sofrida e lentamente na direção correta. Alcançamos a Wheeler Street 10 minutos atrasados e encontramos David Gale, cercado por um pequeno grupo de pessoas e uma equipe de TV norueguesa, nos esperando para começar o primeiro passeio turístico.


David Gale e Syd Barrett se tornaram amigos na adolecência em Cambridge, tiveram suas primeiras experiências com drogas juntos e mudaram-se para Londres em 64 onde Syd mais tarde se uniu ao Pink Floyd. Lá eles dividiram um flat de 2.5 por 3.5 metros, sem água quente em Tottenham Street W1. Hoje Gale, 62 anos, em seu pesado sobretudo negro, desbotado com o uso excessivo em uma cidade muito fria e úmida, nos levava para um passeio por aquelas ruas medievais, apontando os principais pontos de encontro da galera nos anos 60 e contando histórias sobre os personagens mais marcantes na vida de Syd.


Começamos o passeio à beira do rio Cam numa área gramada chamada Laundress Green onde os adolecentes da época deitavam-se para fumar o sagrado baseado em frente ao pub The Mill, na Mill Lane. Lá Gale descreveu o impacto comum causado pela diária chegada de Syd, um estudante de artes jovem alto e forte que vestia calças jeans pintadas e apertadas o suficiente para desafiar as leis da física, camisa para fora da calça coberta por um smock (espécie de avental usado por alunos de arte) e óculos wraparound de plástico preto. O impacto era acentuado pelo seu andar característico de pavão saltitante que acentuava o balançar, para cima e para baixo, de seu cabelo, comprido (para os padrões da época) e encaracolado. Gale lembrou-se de que, apesar desse visual cool e arrogante, Syd era uma pessoa amena e receptiva, que interagia com todos de maneira alegre, jamais demonstrando qualquer sinal de um dark side.

Deixamos o gramado e caminhamos cerca de cinco minutos por ruas estreitas até uma ruela chamada Market Passage, escondida no emaranhado gótico do centro dessa cidade que merece ser visitada. Paramos em frente ao 'Café Ta Bouche', um coffe shop muito simples e vazio, aos pés de uma quadra recém reformada e pouco atraente. David Gale nos contou então que nos anos 60 esse lugar não era uma café, mas sim, um pub chamado 'The Criterion', frequentado por soldados Americanos, Teds (sujeitos atrasados em moda e gosto musical), Beatnicks (hippies), mecânicos baixinhos e invocados e estudantes jovens, como Syd e David, geralmente disfarçando a idade para não serem arremessados para fora pelos filhos do dono do bar, os irmãos Hart, renomados pelo modo psicótico com o qual resolviam pendengas profissionais.

Terminamos nosso passeio em frente ao 'Corn Exchange', principal casa de shows de Cambridge na Wheeler Street, bem em frente ao centro de informações turísticas, exatamente onde nosso passeio começou. Depois de deixar o Pink Floyd em 1968, Syd voltou para Cambridge e saiu dos olhos do público por alguns anos. Em 1972, ele montou uma banda de vida curta chamada 'Stars' com ex-membros da banda londrina 'Pink Fairies' e foi aqui no 'Corn Exchange' que eles marcaram shows esperados por fans como uma possível ressurreição. David começou então a descrever o comportamento desastroso de Syd durante os shows mas teve sua narração interrompida por uma dezena de estudantes que passavam aos gritos em bicicletas de cestinha, aparentemente o meio de transporte mais comum daqui. Passada a poluição sonora, ele continuou a contar que Syd, durante essas gigs, ficava tocando acordes desafinados e desconexos, imóvel, com a maquiagem negra dos olhos derretendo rosto abaixo, sem nenhuma noção do que acontecia ao seu redor. A luz que ele antes radiava havia se apagado, sentimento competentemente descrito mais tarde pelo próprio Pink Floyd em 'Shine On You Crazy Diamond' com trechos da letra que rezam: "Lembra-se de quando eramos jovens? Você brilhava como o sol. Agora seus olhos são como buracos negros no céu".

Twink, o baterista dessa fatídica banda, relembra que alguns dias depois do último show no Corn Exchange Syd parou ele na rua, mostrou um jornal com a crítica do show e pediu as contas alí mesmo. Outras tentativas de capitalizar em cima do nome de Syd Barrett aconteceram mais tarde, sem sucesso.


Um dia com Syd Barrett (parte 2)

O evento City Wakes oferecia várias atividades no decorrer daquele dia, muitos deles acontecendo simultaneamente, forçando-nos a ter que escolher quais deles seria deixado para trás. Decidimos dar um pulo no MIND OVER MATTER na Grand Arcade, St Andrew's Street, para dar uma olhada nessa exposição com fotos e capas de albuns do Pink Floyd por Storm Thorgerson. Foi fácil decidir por essa exposição já que, segundo alguns outros atendentes desse evento, havia uma grande possibilidade de conhecer Storm pessoalmente. A sorte, porém, não estava do nosso lado e tivemos que nos contentar em rever um bando de imagens que já estavamos carecas de ver. (Hey, pelo menos esses eram os originais!)

Saimos da Grand Arcade e caminhamos, mais uma vez nos perdendo, para a Ruskin Gallery para conferir o THE OTHER ROOM, exposição de quadros, fotos e cartas de Syd durante e depois do sucesso do Pink Floyd. Aí vão algumas fotos que tirei alí:


Red Crosses (Data desconhecida)


Auto Retrato em madeira (1964)


Field and Flowers (2002)


Little Red Rooster (1966)

Um dia com Syd Barrett (parte 3)













ALL AT ONCE: THE HAPPENING

St Paul's Church

Cambridge


Saimos da Ruskin Galery em silêncio, ambos imaginando o quão arriscado teria sido levar um dos quadros embora para casa. Depois de expôr nossos planos de roubo abertamente e concluir que o risco era um pouco alto demais, Frank tentou me convencer a voltarmos para Londres onde ele teria uma sessão de gravação às 8 da manhã do dia seguinte. Negociamos e decidimos dar uma passada rápida no último evento do dia: The Happening. Caminhamos debaixo de chuva até a St Paul's Church na Hills Road. Tanto eu quanto Frank não sabíamos o que esperar pois as descrições no programa impresso eram vagas e confusas. Sabíamos que a participação da audiência seria importante e que nossa presença era uma forma de contribuir com os esforços dos organizadores.


Fomos recebidos no saguão de entrada da igreja por uma mulher de meia idade claramente vestida para uma festa a fantasia. Enquanto equilibrava uma prancheta, uma caneta e uma taça de vinho tinto, ela nos explicou as regras do 'jogo'. Disse que tinhamos que ficar à vontade, não desligar o telefone, fazer e receber o máximo de ligações possíveis e que podiamos caminhar por qualquer área do evento, incluindo o palco, onde uma tela em branco e pincéis com tinta eram oferecidos para quem quisesse deixar sua marca. Ela nos disse também que os performers do evento haviam recebido uma pilha de placas que, virando uma a uma, informariam o que deveria ser feito e por quanto tempo. 3 placas diferentes estavam embaralhadas e distribuidas entre os artistas com as seguintes instruções: 'Tocar por 3 minutos', 'Falar por 3 minutos' ou 'Silêncio por 5 minutos', o que garantiria a atmosfera inusitada da apresentação. Depois de anotar nossos nomes e telefones na prancheta, ela nos apontou a porta de entrada que nesse mesmo instante se abria para um ser vestido de Elvis Presley, com uma peruca pichaim grande o suficiente para arruinar a visão de qualquer infeliz que tivesse o azar de sentar atrás dele, que procurava uma área aberta para fumar seu cigarrinho. Ele sorriu, disse oi e nos deu passagem apontando para dentro da igreja com a mesma mão que também segurava sua taça de vinho.


Ao passar por aquela pequena porta de madeira de acesso à nave principal da igreja, viajamos no tempo e no espaço, entendendo imediatamente porque aquele evento seria o principal da semana. Segundos atrás, nos encontravamos em uma igreja no centro de Cambridge. Agora estavamos no UFO club, na Tottenham Court Road em Londres, de volta aos anos 60, no cenário típico das primeiras apresentações do Pink Floyd. No palco, que havia sido montado no altar da igreja debaixo de uma cruz gigantesca, um saxofonista-trumpetista, uma flautista, um baterista e um tecladista, todos acima dos sessenta anos de idade, se revesavam entre pintar, falar e tocar, em uma performance imprevisível. Cinco projetores iluminavam todo o ambiente. O primeiro deles, projetado na parede inferior esquerda atrás do palco, apresentava cortes de filmes caseiros de Syd, mostrando cenas da sua infância, de alguns camarins na época áurea com o Pink Floyd e uma de suas primeiras viagens de LSD. Na parte inferior direita, o segundo projetor exibia imagens que simulavam uma viagem pelas estrelas, com cores que variavam com a intensidade do momento. Os três útimos projetores, no entanto, guardavam a melhor parte. Projetados na parede superior do palco, sobre a gigante cruz encrustrada e nos pilares em ambas as laterais do palco, os desenhos psicodélicos escorriam e se interpunham pelas paredes, ora como uma grande gota de sangue, ora como uma irresistível chuva de estrelas num espetáculo de cores e psicodelia, provido pelo lendário Peter Willson, o iluminador oficial do Pink Floyd, responsável quase que anonimamente por boa parte do sucesso dos shows da banda nos anos 60, que se colocava em pé, com a prontidão de um soldado, orgulhoso ao lado de seu maquinário na escuridão dos fundos da igreja.


Procurei um lugar para sentar bem longe de onde o Elvis de peruca já se encontrava de volta, em um dos acentos de madeira gelada daquele local de adoração deturpado pelo rock progressivo, enquanto Frank se distanciava para o bar improvisado na asa direita da nave. Acomodei-me e assistí maravilhado à aquele show de luzes, imagens e sons desconexos saboreando um robusto vinho tinto da casa (de Deus) tentando juntar coragem para caminhar até a lateral esquerda do palco e pintar a minha marca. Na audiência, formada na sua grande maioria por familiares e amigos de Syd, cerca de 80 pessoas assistiam atentamente ao espetáculo, garantindo o clima intelectual típico de Cambridge. De tempos em tempos alguém da platéia se levantava e gritava alguma coisa para os performers, geralmente ofensiva, para o espanto geral. Meu telefone toca. Finalmente vou poder fazer a minha parte nesse evento, pensei eu enquanto tateava os botões do celular no escuro, tentando descobrir quem chamava. Um numero desconhecido piscava na pequena tela do aparelho que eu atendi disposto a falar em alto e bom tom, para que não houvesse dúvida para os amigos de Syd que eu queria coperar.


'Alô?' Disse eu baixinho, enquanto minha voz falhava (eu só estava esquentando).


'Essa é sua chamada de despertar' disse a voz feminina do outro lado da linha fazendo menção ao nome do evento (City Wakes) com uma determinação que me cortou como uma navalha fria. 'Eu preciso que você me faça um favor...' continuou a voz, inabalada pelo meu silêncio '...eu preciso que você se levante, caminhe até o palco, olhe nos olhos do locutor principal e grite o mais alto que você puder: Ninguém me diz o que fazer! NINGUÉM! ... entendeu?'


'Sim', respondi eu, num tom de voz tão forte e imponente quanto o de uma velhinha de noventa anos.


'Não tenha pressa', disse ela, 'Faça isso quando você se sentir à vontade'


'Sim', ataquei eu novamente com minha imitação de Madre Teresa de Calcutá.


A ligação foi encerrada e eu me encontrei novamente na segurança do anônimato na escuridão da igreja. Olhei em volta e descobri que Frank havia se retirado para mais um cigarro. Matei a taça de vinho num gole, levantei-me silenciosamente e me arrastei pelas sombras para fora da igreja. Encontrei o Frank encostado na parede do lado de fora falando no celular copiosamente. A chuva que havia nos castigado durante todo aquele dia agora se transformara em uma neve muito fina que empapava o chão e dificultava a arte de andar.


'Frank, preciso de você!', disparei ignorando a conversação que ele parecia estar curtindo. Antes que ele pudesse pensar qualquer bobagem, comecei a explicar o que tinha acontecido na ausência dele, assistindo a cara dele se modificar em choque. Frank desligou o celular encolheu os ombros e com um expressão de alívio disse, 'Bixo, o que é que você quer que eu faça?'. Está aí uma coisa que eu não tinha pensado: o que é que ele poderia fazer por mim? Me levar até o palco pela mão e me apresentar para os performers anunciando que eu tinha algo pra dizer? Disfarcei a atenção para a neve enquanto pensava em alguma coisa, até perceber que eu tinha que fazer isso sozinho.


'Vem filmar', disse eu virando as costas resignadamente.


Lá dentro a psicodelia comia solta quando caminhei até a frente do palco, olhei diretamente para o locutor principal da noite, Mr Nigel Lesmoir-Gordon e gritei com todo meu ódio 'Nobody tells me what to do! NOBODY!'. Nigel parou assustado por um instante, abriu um sorriso e concordou: 'É isso aí! Ninguém diz a ele o que fazer!'. Algumas palmas soaram na minha direção enquanto eu fazia meu caminho triunfante de volta ao meu acento, antes de ser interrompido por uma figura paternal alta e familiar. Matthew Scurfield, ator e escritor de uma das várias biografias de Syd Barrett, estendia a mão para me comprimentar.


'Gostei muito do que você disse!', falou ele, com a autoridade de um amigo de infância de Syd, no seu tom pausado. Agradeci todo sem jeito e fiz menção de continuar o meu caminho de volta à paz da escuridão quando ele continuou: 'Eu quero subir no palco e participar também, mas sou muito tímido... você faria a gentileza de subir lá comigo? Meu triunfal alívio me abandonou instantaneamente e enquanto sentia minha pressão cair, olhava o rosto carismático de Mr Scurfield e percebia que era impossível dizer não. 'Sim', disse eu já arrependido, naquele tom de vovozinha. Caminhamos de volta ao palco e nos posicionamos cada um de um lado de um microfone num pedestal tão alto que me obrigava a subir na ponta do pé e olhar para cima num angulo de 180 graus para tentar gemer qualquer coisa. A conversa se iniciou como uma conversação telefônica de dois guris de cinco anos de idade:


Ele: 'Oi, qual o seu nome?'

Eu: 'Meu nome é Gui' (impossível tentar fazer um inglês falar 'Guilherme' e/ou se lembrar desse nome no dia seguinte)

Ele: 'Como vai você, Gui?'

Eu: 'Bem, e você?'

Ele: 'Gostei do que você falou antes.'

Eu, sem saber o que dizer: 'Gostou?'

Ele: 'Sim e eu não quero te dizer o que fazer. Eu estava preso... em um material físsil... e eu não pude sair por um bom tempo... foi quanto te avistei'. Nesse momento ele dá um passo para trás, claramente abrindo espaço para que eu falasse algo. Parei em frente ao microfone, corri os olhos por aquela platéia de senhores e senhoras em trajes ricos e chiques, confortáveis com seus sorrisos brancos e suas taças de vinho pela metade, curiosos com a presença desse inusitado plebeu, sentí o alcool do vinho bater nos meus miolos e comecei meu discurso:


'Quando foi que vocês se acomodaram? Vocês Inglêses costumavam ser o melhor povo do mundo! Costumavam... não são mais...', nesse momento alguém da platéia começa a rir e grita para que eu abaixe o pedestal do microfone e saia das pontas dos pés. Puxo o microfone para baixo, me desculpo pela pouca estatura característica de terceiro mundo e continuo, apontando para a tela com filmagens antigas de Syd no fundo do palco: 'O que aconteceu nessa época, Syd, seus amigos, sua geração, transformou a minha existência e moldou minha personalidade. Eu sou um fruto da vossa cultura, cultura essa que me ensinou a lutar pela liberdade!' Depois de uma pausa, concluí num tom de voz triste e indignado:


'Mas vocês se acomodaram'.


Resolvi encerrar o discurso por alí e sair do palco. Queria ter lembrado a eles que, enquanto estavamos lá reunidos, nos divertindo com nossos vinhos e interesses artísticos, vinte e cinco mil crianças morrem de fome todo o dia ao redor do mundo. Cinquenta mil se contarmos doenças preventivas. Queria dizer o quão decepcionado eu ficava cada vez que um inglês indiferentemente anunciava que é cada um com os seus problemas e que isso não é problema deles. Queria lembrar aos que pensassem assim para reconsiderarem a questão quando voltassem para casa e começassem a trancar suas portas com medo do mundo lá fora. Haverá violência enquanto houver fome. Haverá exploração enquanto houver demanda. Bastava que eles se dessem conta disso e o problema se transformaria nas nossas frentes sem que ninguém precisasse pegar em armas ou sequer mover um dedo. Bastava que eles entendessem as lições de amor e liberdade que eles mesmos nos deram nos anos 60 e 70. Queria ter dito muitas coisas mas , com medo de apanhar, recolhi meu rabinho entre as pernas e resolvi guardar as estatísticas para mim.


Alguns minutos depois, Matthew Scurfield me abordou mais uma vez e me convidou para voltar ao palco. Dessa vez recusei o convite educadamente dizendo que minha cota de coragem do ano já tinha se esgotado. Ele então me abraçou sem jeito e num tom de voz emocionado me agradeceu pelas doces palavras que visivelmente o tinham tocado. Eu tinha a metade da idade dele, vinha do outro lado do mundo e ainda assim anunciava com orgulho o quanto a geração dele me serviu de molde. Ele entendeu o que eu disse e ele entendeu também o que eu não disse. Eu havia aprendido as lições que ele e seus amigos me ensinaram no passado.


Nos despedimos de Mr Scurfield e caminhamos de volta ao carro com um sentimento de missão cumprida. Dirigimos de volta para Londres em silêncio, sob uma neve brilhante que agora pesava e se acomodava no acostamento. Sim, a neve também se acomoda. E acomodar-se é a última coisa que ela faz antes de derreter e desaparecer.


quinta-feira, junho 19, 2008

Férias

Oi gentem!

Sei que esse blog anda parado na última semana, mas o motivo é férias.
Vim visitar meu irmão, o Joebass, na Bélgica onde ele vive com sua digníssima esposa. O post abaixo, dos anõezinhos, foi baseado nessa foto tirada em Luxemburgo, onde passamos o final de semana com minha mãe (e mãe do Joebass também, embora às vezes eu sinta que um de nós é adotado)

Esse blog voltará a andar com mais rapidez quando eu estiver de volta a Londres. Que a forca esteja com vocês (não acho o 'cê-cedilha' aqui nesse teclado homossexual francês)

A Diretoria

segunda-feira, junho 16, 2008

EXTRA! EXTRA!


A dona de casa Dalila Aguiar emocionou o mundo hoje ao salvar dois dos sete anões que se perderam de seu grupo e acabaram por se afogar em um córrego no centro da capital de Luxemburgo - LU.

Aqui a brasileira posa para nosso fotógrafo momentos após livrá-los da tragédia. "Eu estava passeando pelo vale quando ouvi a gritaria", narrou ela. "Corri para a beira do córrego e estendi os bracos no meio daquela confusão de tocas coloridas, pás e picaretas, puxando a primeira coisa que consegui agarrar".

Cinco anões ainda estão desaparecidos.

sexta-feira, maio 23, 2008

Under a Raging Moon

A limosine já começava a acelerar para alcançar o ritmo da auto-estrada em direção ao aeroporto quando Keith, como se falasse consigo mesmo, se manifestou: 'Merda!'. A urgência de sua manifestação acordou o resto da banda que dormia desconfortavelmente nos bancos daquela embarcação pequena e cumprida nas primeiras horas de uma manhã embassada, ainda cansados do show e after-party da noite anterior. Keith, agora se dirigindo ao motorista, falou: 'Agente vai ter que voltar!' Notando a incerteza do motorista, ele insistiu: 'Agente tem que voltar pro hotel! Eu esqueci uma coisa!'

Para a incomodação geral da banda, que não via a hora de chegar no próximo hotel, a limosine começou a procurar um retorno pra voltar para a cidade. Após a freada brusca no cascalho branco em frente ao hotel, Keith se jogou para fora do carro e correu pelas escadas até o terceiro andar. Atirou-se para dentro do quarto onde se instalara na noite anterior para encontrar três camareiras que, horrorizadas com o estado no qual o ambiente se encontrava, continuavam paradas, sem saber por onde começar. Ele parou de súbito, olhando ao redor perturbadamente até encontrar o que queria no canto oposto da sala, ao lado da janela: a então moderna televisão a cores do hotel. De tubo, 29 polegadas, ela ainda estava ligada e estranhamente conectada a uma longa extensão de tomada, enrolada atrás do pequeno móvel de madeira. Keith disparou em direção ao aparelho com uma força inexplicável para aquela hora da manhã, abraçando-a e levantando-a no ar. Caminhou com dificuldade em direção à janela, apoiou a TV no batente e enquanto mirava a piscina azul e calma que balançava pacificamente abaixo das sacadas daquele prédio, empurrou-a com toda sua força, tendo o cuidado de manter a tela para o lado de cima.

Ele gostava de ver a imagem ainda na tela quando a TV alcançava a água e explodia lá em baixo. Jogando-se pesadamente no banco, de volta à limosine, ele suspira e diz: 'Quase esqueci!'.

Keith Moon, nascido em Wembley - Londres, em agosto de 1946, ficou famoso, primeiro por ser o baterista do The Who e mais tarde por destruir todo e qualquer ambiente onde ele se encontrava. Se vocês acham que o Axel Rose é um pop-star maluco e excêntrico, saiba que Keith Moon foi, não apenas um professor, mas o Deus de todo artista que algum dia tenha alcançado uma página de jornal por mal comportamento.

Suas peripécias, dentre inúmeras outras, incluem:
  • tomar toda e qualquer coisa que lhe fosse oferecido, incluindo um tranquilizante de gorilas, ingerido horas antes do primeiro show da segunda Tour Americana do The Who em 1973, que acabou por derrubá-lo na quarta música.
  • a mania de colocar explosivos em privadas pelo puro prazer de vê-las voarem pelos ares.
  • dirigir um Rolls-Royce para dentro da piscina do Holliday Inn (de onde o The Who foi banido pela eternidade) durante sua festa de aniversário.

A brincadeira começou quando Pete Townshend, o guitarrista do The Who, começou a quebrar suas guitarras no palco em resposta ao movimento de Arte Auto-Destrutiva, que protestava contra a política de guerra adotada pelo império Anglo-Saxão. Para Pete, uma súplica pacifista. Para Keith, uma boa desculpa para fazer o que ele mais gostava: destruir.

Foi com a mania de destruir tudo que Moon acabou por destruir a si próprio. Viciado em álcool, speed, cocaína e qualquer remédio que se tomado em altas doses ou misturados davam barato, ele foi um bom exemplo de um jovem que não conheceu os benefícios da canabis. Aguns baseadinhos no decorrer de sua carreira teriam poupado um bocado de dinheiro aos hotéis e a ele mesmo. Keith Moon morreu no dia 7 de setembro de 1978, com 32 anos, vítima de overdose de Clomethiazole, o remédio receitado para ajudá-lo a parar de beber, em sua última tentativa de reabilitação. Em seu corpo, encontrado por sua namorada, a modelo suéca Annette Walter-Lax, no mesmo quarto onde Cass Eliot do Mamas & the Papas morrera 4 anos antes, a investigação policial encontrou 32 pílulas, 26 das quais ainda não dissolvidas.

Moon foi cremado e suas cinzas foram jogadas em um jardim, aqui perto de casa. Neste exato momento, enquanto teclo, a brisa de outono assopra levemente trazendo a poeira da rua para dentro do meu apartamento e para dentro de minhas narinas. Com licença, preciso ir quebrar alguma coisa...

'Long Live Rock & Roll!'

quinta-feira, maio 08, 2008

Banksy, o Invisível

Certa manhã chuvosa no centro da capital Inglesa, um homem de origens asiáticas e de mal com a vida chega para mais um dia de trabalho em sua banquinha de jornal. Retirando um molho de chaves do bolso de suas calças surradas, mal humorado e ainda com sono, ele luta contra suas mãos semi-congeladas e sua vista embaçada para encontrar e separar a chave que abriria o cadeado na parte de trás de sua banca. Ao posicionar-se em frente à pequena porta metálica, no entanto, ele se dá conta de que, na calada da noite, algum vândalo maldito havia pixado toda a parede traseira da banca que lhe custara muitos anos de trabalho para adquirir.

Esse evento só serviu para tornar sua vida ainda mais amarga. Eu sei. Tive o desprazer em conhecê-lo. Ali entre os jornais, chicletes e cigarros, ele sentia no peito a ofensa quando alguém parava para admirar a sujeira que lhe custaria 600 libras para consertar.

Alguns meses depois, em um dia como outro qualquer, um turista japonês mais ousado o abordou elogiando a pixação. Cansado de xingar, ele levantou seus olhos desconfiados, mirou o turista e disse com ironia: 'Gostou? Leva embora!'. Para sua surpresa, o japonês que sorria como se tivesse dentes extras na boca respondeu: 'Quanto?'. Relutando em acreditar que a sorte finalmente lhe batera à porta, ainda irônico, retrucou: 'Mil libras'. Como resposta para suas orações, o japonês tirou a carteira do bolso e começou a contar um maço de notas gordas.

Naquele dia ele chegou em casa vibrante, falando alto e contando para sua esposa e para seus vizinhos como foi que ele passou um turista pra trás e resolveu o problema da pixação em uma só tacada. 'Como é bom ser esperto', pensava ele em voz alta.

Uma semana mais tarde um de seus vizinhos lhe chamou para mostrar algo na internet. 'Essa não é a parede da sua banca?' perguntou ele apontando para a página do e-bay aberta em seu monitor. Confuso, enquanto reconhecia aquele pedaço de metal vandalizado, seu vizinho completou: 'Alguém acabou de oferecer 500 mil libras por ela!'.

Alegria de pobre dura pouco. Mas não é atoa. O que esse homem falhou em notar é que a vida lhe havia presenteado não com um turista japonês otário, mas com um Banksy.

Para alguns, um vândalo. Para muitos outros, o maior artista contemporâneo. Além de pixar seus ratos e imagens subversivas em muros e casas pelo Reino Unido afora, ele já deixou sua marca em lugares tais como o Palácio de Buckingham, British Museum, Tate Modern, o Louvre em Paris, a Disneylândia e o Muro da Cisjordânia. O fato é que ninguém sabe quem ele é. Sabe-se que ele vêm de Bristol, uma cidade a pouco mais de 100 milhas (160 km) de Londres, no oeste da Inglaterra. Sabe-se também que ele viaja, como um Papai Noel dos tempos modernos, abençoando casas, muros e qualquer superfície que se levante em via pública.

Noite passada, eu e um grupo de amigos visitamos o túnel da Leak Street, em Waterloo, também conhecida como 'Piss Lane' (nome de duplo sentido, pode ser traduzido tanto como Rua da Cachaça, quanto como Rua do Mijo). Foi lá que, semana passada, Banksy reuniu 40 amigos durante a noite e transformou um túnel fedido em uma galeria de arte. Mais será escrito sobre ele aqui em ocasiões apropriadas. Por hora, deixo com vocês com algumas fotos em primeira mão.












E para terminar minha favorita, Manbearpig Skull, em homenagem à paródia sobre aquecimento global feita pelo South Park:
O único detalhe é que essa obra não estava no túnel da 'Piss Lane', mas sim, no túnel do metro de Waterloo. Isso é apenas uma parede descascada e fui eu quem a nomeou dessa forma. Mas é impressionante como uma tarde em uma galeria de artes contemporânea pode mudar sua visão do mundo, não?

quinta-feira, maio 01, 2008

ESTADOS UNIDOS DECLARA GUERRA CONTRA BRASIL


Essa é a notícia que nenhum de nós gostariamos de ouvir. Ouví-la de manhã é um convite certo para cuspir o cafezinho. De noite, o Jornal Nacional seria o ponto de encontro de toda uma nação unida, tentando entender o que raios está acontecendo. Ao invéz de explicar quem foi a mula que provocou uma guerra contra a maior potência armada do planeta, o Jornal mostraria cenas horrendas de saques, estupros e assassinatos em massa, cometidos pelos nossos próprios compatriotas mais surtadinhos. Trancaríamo-nos então em nossas residências, racionaríamos o feijão e nos protegeríamos debaixo dos batentes das portas, no caso de algum míssil cair dos céus. Não abririamos as portas pra ninguém e mataríamos o carteiro por engano.

Na TV, as cenas de saques se repetiriam vez após vez. Sair de casa, só se for pra comprar provisões excenciais, tipo um Playstation 3. Toda noite, o Jornal repetiria as mesmas cenas, mas também mostraria o exército Norte Americano entregando mantimentos e salvando vidas. Esperariamos então, passivamente, que o exército Americano matasse o último bandido nas ruas para comemorarmos a vitória da democracia num Mc Donalds, perto de você, ainda acreditando que o termo 'males da propaganda' se refere a comerciais de TV fajutos.

Divide and Conquer. Esse é o termo inglês que define a mais antiga estratégia de guerra: dividir e conquistar. É fácil compreender o porque 'conquistar' faz parte desse lema mas, o que exatamente eles querem dizer com 'dividir'?

"Em 2006, dois soldados do exército britânico foram presos pela polícia em Bagdá. O motivo era simples: os soldados foram pegos vestidos de árabes, enquanto passeavam de carro pelas ruas mais movimentadas, atirando em crianças, velhos e jovens. O exército britânico então proferiu uma ordem imediata para que a polícia iraqueana soltasse os prisioneiros. Falhando em cumprir a ordem, o exército britânico invadiu a prisão com tanques de guerra, destruindo as paredes e libertando os soldados. Missão cumprida."

Esse artigo se repete de tempos em tempos tornando claro a idéia de 'dividir'. Qual estratégia de guerra pode ser melhor do que confundir o povo inimigo, colocando-os uns contra os outros? Provoque-os. Forge atentados e bote a culpa neles. Coloque Shias contra Sunnis, brancos contra pretos e ricos contra pobres. E é aqui que os reais 'males da propaganda', onde propaganda se disfarça de notícia, entram na história: mostre nas TVs deles somente o mal que acontece lá dentro. Faça-os perder a confiança mútua. Faça-os rir e cantar com A Praça é Nossa e celebrar a beleza de seus esportes favoritos, transformando suas TVs em seus melhores amigos. E lembre-se, sempre que um soldado saxão aparecer, que ele esteja carregando mantimentos ou salvando vidas. Enquanto brasileiros lutam uns contra os outros, exércitos gringos usarão de todas as suas unidades e tanques para sairem pelas portas dos fundos, carregando todo o ouro...

quarta-feira, abril 30, 2008

O Viciado

Eu comecei muito cedo. Mas comecei com um pequeno, pois eu tinha medo. O primeiro, se bem me lembro, foi aos 11.

O contato com o perigo sempre me excitou e meu coração batia forte só de chegar perto. Levou algum tempo para esse medo passar e se transformar numa obcessão. Eu chegava da escola e essa era a primeira coisa que vinha na minha cabeça. Vários, de tamanhos, cores e viajens diferentes, se espalhavam pela casa como acessórios fundamentais da minha decoração. Muitas vezes tive que mentir para meus pais, dizendo que era de um amigo. Mas era meu. Sempre.

Alguns amigos se afastaram de mim. Não gostavam do cheiro e diziam que eu ficava muito bobo, rindo à toa. Se eles ao menos soubessem como era bom... as vezes rolava uma paranóia mas sempre acabava tudo bem. Por muito tempo acreditei que essa brincadeira nunca me faria mal. 'Como pode alguma coisa com tantas ligações com a natureza fazer mal a um ser humano?' questionava arrogantemente, cego para as implicações que esse vício teria no meu futuro próximo.

Experimentei todos que pude adquirir até que a mudança forçada de circunstâncias, na ocasião de minha vinda para a Inglaterra, me obrigou a 'dar um tempo'. Dividia uma casa com várias pessoas. Não havia privacidade. Nas ruas, só os encontrava com alguns poucos mendigos. Acabei perdendo o contato. O problema é que, no fundo, eu ainda simpatizava. Achava legal. Eu era jovem e ingênuo. Mas paguei o preço. Com juros e dividendos.



erta feita, voltando de mais um turno desumano de trabalho, cansado, deprimido e cabisbaixo, vinha eu subindo a plataforma de saída do metrô, me limitando a olhar para a ponta dos meus pés que se arrastavam no mármore gelado da estação de Finsbury Park. Por não estar olhando para frente, fui obrigado a fazer uma freagem de emergência para evitar atropelar uma bolinha de pelos que subitamente apareceu na minha frente. Um cachorro de médio porte com cara de pidão sentava-se no chão, bem no final da plataforma, bloqueando a passagem. Um sentimento de alegria tomou conta de meu eu, dobrando meus joelhos e me forçando a acariciá-lo, impetuosamente. Na minha carência pela natureza, esqueci-me por um par de segundos de procurar saber quem era o dono daquela pequena criatura. Enquanto afagava os pelos escuros daquele cão, notei que um par de sapatos brilhantes se posicionava diretamente atrás do bixinho, como que ajudando-o a bloquear a saída da estação. Fui subindo os olhos lentamente, acompanhando as pernas do proprietário até o topo. Demorou um pouco. O cara era alto. Ao finalmente alcançar a cabeça do indivíduo que olhava para trás como se conversasse com alguém às suas costas, assisti seu rosto voltar-se pra frente e abaixar-se na minha direção, assustando-se com a visão da minha pequena figura. Só quando ele abaixou a cabeça pude ver seu chapéu preto e alto com o simbolo brilhante da polícia metropolitana.

Uma mão pesada repousou sobre meu ombro quase que instantaneamente colocando-me bruscamente de pé e com voz grave e rouca ele disse 'Meu amigo quer falar contigo!'. Fui então conduzido, zonzo e começando a realizar a roubada em que eu estava me metendo, a um dos cantos da estação para uma entrevista com um segundo oficial que, sem tirar os olhos de sua prancheta, começou a interrogar.
Oficial: 'Por que você acha que esse cão te abordou?'
Eu: (Envergonhado ao perceber a burrice dos meus atos. Quem, senão um imbecil completo, acaricia um cachorro da polícia anti-drogas?) 'De repente', pensei rápido, 'o cão gostou de mim?' completei, realizando que deveria ter pensado um pouco mais e num tom de voz que claramente demonstrava que mudei de idéia no meio da frase.
Oficial: 'Esse cão é viciado em drogas! Ele não tem amigos...', só então desviando os olhos de sua prancheta e fulminando minha pupila numa expressão nada amigável. Chocado com a resposta e tendo falhado em impressionar, baixei a cabeça e me limitei a responder perguntas e oferecer meu corpo para ser apalpado por todos os cantos mais íntimos. Me polparam da luvinha. Vaselina, aparentemente, estava em falta.

O sistema me pegou dessa vez. Meu amor por cães me levou à humilhação pública na estação, repleta de transeuntes curiosos e repugnados. Seus olhares me jogavam pesadas cargas de acusação e julgamento, como numa forma mais evoluída de apedrejamento. Perdi meia hora da minha vida esvasiando os bolsos, sendo virado do avesso e tratado como marginal.

Compreendi exatamente a extenção de cada letra do album 'The Wall', que conta a história de um homem à beira da loucura que é perseguido pelo sistema por demonstrar sentimentos humanos.

Fui provavelmente o primeiro homem na face da terra a ser fichado por ser viciado em cachorro.

'... Mother do you think they'll drop the charge?'