sexta-feira, maio 23, 2008

Under a Raging Moon

A limosine já começava a acelerar para alcançar o ritmo da auto-estrada em direção ao aeroporto quando Keith, como se falasse consigo mesmo, se manifestou: 'Merda!'. A urgência de sua manifestação acordou o resto da banda que dormia desconfortavelmente nos bancos daquela embarcação pequena e cumprida nas primeiras horas de uma manhã embassada, ainda cansados do show e after-party da noite anterior. Keith, agora se dirigindo ao motorista, falou: 'Agente vai ter que voltar!' Notando a incerteza do motorista, ele insistiu: 'Agente tem que voltar pro hotel! Eu esqueci uma coisa!'

Para a incomodação geral da banda, que não via a hora de chegar no próximo hotel, a limosine começou a procurar um retorno pra voltar para a cidade. Após a freada brusca no cascalho branco em frente ao hotel, Keith se jogou para fora do carro e correu pelas escadas até o terceiro andar. Atirou-se para dentro do quarto onde se instalara na noite anterior para encontrar três camareiras que, horrorizadas com o estado no qual o ambiente se encontrava, continuavam paradas, sem saber por onde começar. Ele parou de súbito, olhando ao redor perturbadamente até encontrar o que queria no canto oposto da sala, ao lado da janela: a então moderna televisão a cores do hotel. De tubo, 29 polegadas, ela ainda estava ligada e estranhamente conectada a uma longa extensão de tomada, enrolada atrás do pequeno móvel de madeira. Keith disparou em direção ao aparelho com uma força inexplicável para aquela hora da manhã, abraçando-a e levantando-a no ar. Caminhou com dificuldade em direção à janela, apoiou a TV no batente e enquanto mirava a piscina azul e calma que balançava pacificamente abaixo das sacadas daquele prédio, empurrou-a com toda sua força, tendo o cuidado de manter a tela para o lado de cima.

Ele gostava de ver a imagem ainda na tela quando a TV alcançava a água e explodia lá em baixo. Jogando-se pesadamente no banco, de volta à limosine, ele suspira e diz: 'Quase esqueci!'.

Keith Moon, nascido em Wembley - Londres, em agosto de 1946, ficou famoso, primeiro por ser o baterista do The Who e mais tarde por destruir todo e qualquer ambiente onde ele se encontrava. Se vocês acham que o Axel Rose é um pop-star maluco e excêntrico, saiba que Keith Moon foi, não apenas um professor, mas o Deus de todo artista que algum dia tenha alcançado uma página de jornal por mal comportamento.

Suas peripécias, dentre inúmeras outras, incluem:
  • tomar toda e qualquer coisa que lhe fosse oferecido, incluindo um tranquilizante de gorilas, ingerido horas antes do primeiro show da segunda Tour Americana do The Who em 1973, que acabou por derrubá-lo na quarta música.
  • a mania de colocar explosivos em privadas pelo puro prazer de vê-las voarem pelos ares.
  • dirigir um Rolls-Royce para dentro da piscina do Holliday Inn (de onde o The Who foi banido pela eternidade) durante sua festa de aniversário.

A brincadeira começou quando Pete Townshend, o guitarrista do The Who, começou a quebrar suas guitarras no palco em resposta ao movimento de Arte Auto-Destrutiva, que protestava contra a política de guerra adotada pelo império Anglo-Saxão. Para Pete, uma súplica pacifista. Para Keith, uma boa desculpa para fazer o que ele mais gostava: destruir.

Foi com a mania de destruir tudo que Moon acabou por destruir a si próprio. Viciado em álcool, speed, cocaína e qualquer remédio que se tomado em altas doses ou misturados davam barato, ele foi um bom exemplo de um jovem que não conheceu os benefícios da canabis. Aguns baseadinhos no decorrer de sua carreira teriam poupado um bocado de dinheiro aos hotéis e a ele mesmo. Keith Moon morreu no dia 7 de setembro de 1978, com 32 anos, vítima de overdose de Clomethiazole, o remédio receitado para ajudá-lo a parar de beber, em sua última tentativa de reabilitação. Em seu corpo, encontrado por sua namorada, a modelo suéca Annette Walter-Lax, no mesmo quarto onde Cass Eliot do Mamas & the Papas morrera 4 anos antes, a investigação policial encontrou 32 pílulas, 26 das quais ainda não dissolvidas.

Moon foi cremado e suas cinzas foram jogadas em um jardim, aqui perto de casa. Neste exato momento, enquanto teclo, a brisa de outono assopra levemente trazendo a poeira da rua para dentro do meu apartamento e para dentro de minhas narinas. Com licença, preciso ir quebrar alguma coisa...

'Long Live Rock & Roll!'

quinta-feira, maio 08, 2008

Banksy, o Invisível

Certa manhã chuvosa no centro da capital Inglesa, um homem de origens asiáticas e de mal com a vida chega para mais um dia de trabalho em sua banquinha de jornal. Retirando um molho de chaves do bolso de suas calças surradas, mal humorado e ainda com sono, ele luta contra suas mãos semi-congeladas e sua vista embaçada para encontrar e separar a chave que abriria o cadeado na parte de trás de sua banca. Ao posicionar-se em frente à pequena porta metálica, no entanto, ele se dá conta de que, na calada da noite, algum vândalo maldito havia pixado toda a parede traseira da banca que lhe custara muitos anos de trabalho para adquirir.

Esse evento só serviu para tornar sua vida ainda mais amarga. Eu sei. Tive o desprazer em conhecê-lo. Ali entre os jornais, chicletes e cigarros, ele sentia no peito a ofensa quando alguém parava para admirar a sujeira que lhe custaria 600 libras para consertar.

Alguns meses depois, em um dia como outro qualquer, um turista japonês mais ousado o abordou elogiando a pixação. Cansado de xingar, ele levantou seus olhos desconfiados, mirou o turista e disse com ironia: 'Gostou? Leva embora!'. Para sua surpresa, o japonês que sorria como se tivesse dentes extras na boca respondeu: 'Quanto?'. Relutando em acreditar que a sorte finalmente lhe batera à porta, ainda irônico, retrucou: 'Mil libras'. Como resposta para suas orações, o japonês tirou a carteira do bolso e começou a contar um maço de notas gordas.

Naquele dia ele chegou em casa vibrante, falando alto e contando para sua esposa e para seus vizinhos como foi que ele passou um turista pra trás e resolveu o problema da pixação em uma só tacada. 'Como é bom ser esperto', pensava ele em voz alta.

Uma semana mais tarde um de seus vizinhos lhe chamou para mostrar algo na internet. 'Essa não é a parede da sua banca?' perguntou ele apontando para a página do e-bay aberta em seu monitor. Confuso, enquanto reconhecia aquele pedaço de metal vandalizado, seu vizinho completou: 'Alguém acabou de oferecer 500 mil libras por ela!'.

Alegria de pobre dura pouco. Mas não é atoa. O que esse homem falhou em notar é que a vida lhe havia presenteado não com um turista japonês otário, mas com um Banksy.

Para alguns, um vândalo. Para muitos outros, o maior artista contemporâneo. Além de pixar seus ratos e imagens subversivas em muros e casas pelo Reino Unido afora, ele já deixou sua marca em lugares tais como o Palácio de Buckingham, British Museum, Tate Modern, o Louvre em Paris, a Disneylândia e o Muro da Cisjordânia. O fato é que ninguém sabe quem ele é. Sabe-se que ele vêm de Bristol, uma cidade a pouco mais de 100 milhas (160 km) de Londres, no oeste da Inglaterra. Sabe-se também que ele viaja, como um Papai Noel dos tempos modernos, abençoando casas, muros e qualquer superfície que se levante em via pública.

Noite passada, eu e um grupo de amigos visitamos o túnel da Leak Street, em Waterloo, também conhecida como 'Piss Lane' (nome de duplo sentido, pode ser traduzido tanto como Rua da Cachaça, quanto como Rua do Mijo). Foi lá que, semana passada, Banksy reuniu 40 amigos durante a noite e transformou um túnel fedido em uma galeria de arte. Mais será escrito sobre ele aqui em ocasiões apropriadas. Por hora, deixo com vocês com algumas fotos em primeira mão.












E para terminar minha favorita, Manbearpig Skull, em homenagem à paródia sobre aquecimento global feita pelo South Park:
O único detalhe é que essa obra não estava no túnel da 'Piss Lane', mas sim, no túnel do metro de Waterloo. Isso é apenas uma parede descascada e fui eu quem a nomeou dessa forma. Mas é impressionante como uma tarde em uma galeria de artes contemporânea pode mudar sua visão do mundo, não?

quinta-feira, maio 01, 2008

ESTADOS UNIDOS DECLARA GUERRA CONTRA BRASIL


Essa é a notícia que nenhum de nós gostariamos de ouvir. Ouví-la de manhã é um convite certo para cuspir o cafezinho. De noite, o Jornal Nacional seria o ponto de encontro de toda uma nação unida, tentando entender o que raios está acontecendo. Ao invéz de explicar quem foi a mula que provocou uma guerra contra a maior potência armada do planeta, o Jornal mostraria cenas horrendas de saques, estupros e assassinatos em massa, cometidos pelos nossos próprios compatriotas mais surtadinhos. Trancaríamo-nos então em nossas residências, racionaríamos o feijão e nos protegeríamos debaixo dos batentes das portas, no caso de algum míssil cair dos céus. Não abririamos as portas pra ninguém e mataríamos o carteiro por engano.

Na TV, as cenas de saques se repetiriam vez após vez. Sair de casa, só se for pra comprar provisões excenciais, tipo um Playstation 3. Toda noite, o Jornal repetiria as mesmas cenas, mas também mostraria o exército Norte Americano entregando mantimentos e salvando vidas. Esperariamos então, passivamente, que o exército Americano matasse o último bandido nas ruas para comemorarmos a vitória da democracia num Mc Donalds, perto de você, ainda acreditando que o termo 'males da propaganda' se refere a comerciais de TV fajutos.

Divide and Conquer. Esse é o termo inglês que define a mais antiga estratégia de guerra: dividir e conquistar. É fácil compreender o porque 'conquistar' faz parte desse lema mas, o que exatamente eles querem dizer com 'dividir'?

"Em 2006, dois soldados do exército britânico foram presos pela polícia em Bagdá. O motivo era simples: os soldados foram pegos vestidos de árabes, enquanto passeavam de carro pelas ruas mais movimentadas, atirando em crianças, velhos e jovens. O exército britânico então proferiu uma ordem imediata para que a polícia iraqueana soltasse os prisioneiros. Falhando em cumprir a ordem, o exército britânico invadiu a prisão com tanques de guerra, destruindo as paredes e libertando os soldados. Missão cumprida."

Esse artigo se repete de tempos em tempos tornando claro a idéia de 'dividir'. Qual estratégia de guerra pode ser melhor do que confundir o povo inimigo, colocando-os uns contra os outros? Provoque-os. Forge atentados e bote a culpa neles. Coloque Shias contra Sunnis, brancos contra pretos e ricos contra pobres. E é aqui que os reais 'males da propaganda', onde propaganda se disfarça de notícia, entram na história: mostre nas TVs deles somente o mal que acontece lá dentro. Faça-os perder a confiança mútua. Faça-os rir e cantar com A Praça é Nossa e celebrar a beleza de seus esportes favoritos, transformando suas TVs em seus melhores amigos. E lembre-se, sempre que um soldado saxão aparecer, que ele esteja carregando mantimentos ou salvando vidas. Enquanto brasileiros lutam uns contra os outros, exércitos gringos usarão de todas as suas unidades e tanques para sairem pelas portas dos fundos, carregando todo o ouro...