domingo, outubro 29, 2006

Syd Barrett

Roger Keith (Syd) Barrett, nascido em Cambridge, Inglaterra, em 1946, foi o fundador da maior banda de rock progressivo da história. Foi ele quem deu o nome de 'Pink Floyd' à banda e compôs o primeiro album 'The Piper at the Gates of Dawn'. Sua performance e experimentalismo com dissonâncias, distorções, feedbacks e câmeras de eco era seguida de perto por um respeitável secto com sede de inovação. Dentre seus admiradores, um afro-americano que jamais se ausentava das apresentações da banda no clube UFO em Londres. Seu nome, Jimi Hendrix. Outros artistas também assumem terem sido influenciados por Crazy Diamond (apelido dos idos de colégio), entre eles Paul McCartney, Pete Townshend, Jimmy Page, David Bowie e Brian Eno.
Depois de dois anos em tour com a banda, Syd, considerado por muitos até hoje como 'O Pai da Psicodelia', começa a apresentar sinais graves de doença mental provavelmente causada pelo consumo excessivo de LSD. Com a doença se agravando, a banda recruta David Gilmour, amigo de infância de Syd e Waters (baixista), para substituí-lo. Em 1967 Syd é obrigado a se internar e se torna recluso. O album 'Dark Side of the Moon' que fala sobre loucura e sobre o desconhecido foi a primeira tentativa da banda em lidar com a perda do amigo. Em 1975 a banda gravou todo um album (Wish You Were Here / Queria que você estivesse aqui) em homenagem ao seu ex-frontman. Syd passou os últimos 20 anos de sua vida em um pequeno sobrado em Cambridge, na compania de sua mãe. Em 7 de julho de 2006 Syd perde a batalha contra o câncer no pâncreas.

Foi a partir desse dia que eu e minha digníssima esposa passamos a invadir sites super-mega-ultra-hyper-secretos, respeitosamente, na tentativa de achar o endereço preciso da pocilga onde o gênio inspirador do passado viveu e padeceu. Depois de alguns dias a busca rendeu seus frutos. Organizamos a procissão e nos tocamos para Cambridge. Na chegada compramos um mapa turístico da cidade e começamos a jornada. O mapa não era claro, mostrava apenas os pontos básicos e se limitava ao centro da cidade. Depois de muitas informações disconexas conseguimos entrar num ônibus que nos levaria para algum lugar nos arredores da rua do sobrado. Na entrada do ônibus, perguntei ao motorista se ele sabia onde era a rua 'X'. Ele não fazia a menor ideia e não estava com a menor vontade de ajudar. Pra quebrar o gelo, imendei com um sorriso largo: 'Vou visitar a casa do Syd Barrett!', esperando que ele desabrochasse e dissesse algo parecido com 'Ahhhhh... porque não falou antes???' . Ao invéz de desabrochar, seu rosto, que ainda estava virado para mim, se contorceu de nojo e seu olhar foi lentamente desviando de mim para algum lugar no céu e de volta à estrada, numa expressão aterrorizada onde se lia: 'N-u-n-c-a o-u-v-i f-a-l-a-r!!!'. Dando de ombros, arrancou o ônibus bruscamente desmanchando meu sorriso e meu equilíbrio, me fazendo rodopiar e me obrigando a dar passos largos para continuar de pé. Com três passos recuperei o equilibrio. Mas precisaria de muitos mais para recuperar o sorriso. Descemos do ônibus em qualquer lugar e começamos a andar a esmo na esperança de encontrar uma placa onde se pudesse ler: 'Casa do Syd Barrett'. Mesmo sabendo da improbabilidade disso acontecer e tendo lido vários relatos que descreviam a maneira como os moradores vizinhos de Syd costumavam dar informações erradas para proteger a privacidade desse honorável e atormentado cidadão, a esperança era a última que morria. Decidimos não mais mencionar seu santo nome em vão. Algum tempo passado achamos uma agência do correio onde nos informaram a localização exata da rua. Findados nossos problemas, saltitamos serelepemente rumo ao nosso alvo.

Em frente ao pequeno e modesto sobrado, estáticos, um misto de emoção e tristesa se abatia sobre nós. Dentro da minha cabeça, ao som de Astronomy Domine, cruzavam-se pensamentos confusos: 'Pobre Syd... merecia uma casa melhor...', 'AHÁÁÁ!!! ACHEI!!! Foda-se aquele motorista de ônibus pau-no-cu ateu pecador e desgraçado!!!', 'Pobre Syd, morreu... ', 'Foda-se todo mundo que não sabia (ou não queria) me dar informação! ACHEIII!!!'. Recuperados do impacto, passamos a fotografar a casa e posso jurar que, quando me posicionei pra tirar a clássica foto segurando a maçaneta da porta de entrada, senti uma forte vibração subindo pelo metal frio que me fez tremer. Muito provavelmente a vibração estava viajando no sentido contrário. Era eu quem tremia e chacoalhava a maçaneta. Mas Syd Barrett merece um pouco de romantismo depois de ter feito tanto e de ter acabado com tão pouco. Passeamos pelos arredores e nos preparamos para ir quando notamos, na casa ao lado, a presença de um senhor idoso de aparência desconfiada sentado no jardim consertando um sapato. O rosto da minha esposa se iluminou prontamente enquanto o meu murchava, já sabendo o que ela queria.

Ela: 'Vai lá! Fala com ele! Pergunta se ele conhecia o Syd Barrett!'.
Eu: 'Nunca! Ele vai me xingar!'.
Ela: 'Não vai xingar nada! Vai lá!'.
Eu: 'Vai você! Esqueceu o que a gente leu sobre os vizinhos deles???'.
Ela: 'Deixa de ser bobo! Se ele não quiser falar ele não fala!'.
Eu: 'Se você tá tão tranquila quanto a isso, porque não vai???'.
Ela: 'Então vou eu!'.
Enquanto ela se virava e começava a caminhar na direção do velhinho com cara de mau-humorado, eu olhava em volta na esperança de encontrar um arbusto qualquer onde eu pudesse me jogar. Ela vai ser mal tratada, vai voltar mal-humorada e ainda vai ouvir um 'Eu disse!', pensava eu, sem respirar. Infelizmente não consegui correr a tempo e fui obrigado a assistir (sem som, devido à distância) a trágica abordagem. Ao ouvir o chamado (presumo), o senhor levanta os olhos e deixa cair o sapato. Levanta-se num pulo e caminha na direção da minha esposa, para meu espanto, abrindo um enorme sorriso. Os dois começam a conversar entusiasticamente e eu, agora envergonhado por outros motivos, começo a andar na direção deles com passinhos de formiga e cara de tacho, tentando parecer casual. Comprimento o agora bom velhinho tentando evitar olhar diretamente para minha esposa. De canto de olho, no entanto, percebo um sorriso sarcástico me dizendo 'Eu disse!'.

O velhinho, que se chamava David (mas não era o Gilmour), nos contou que Syd era muito quieto e nem sempre gostava de visitas. Contou que ele não gostava de falar sobre o Pink Floyd pois isso o machucava (ele tinha completa noção da perda que a esquizofrenia lhe impôs). Contou que após sua morte a casa foi vendida em leilão por quase £800.000 (quase 3 milhões e meio de reais) para algum Pink Floyd maníaco e que suas bicicletas também estavam atingindo valores astronomicos no e-bay. Em quase meia hora de conversa ele desmistificou a imagem de louco babão que o mundo ainda faz dele. Nos despedimos e saltitamos para o centro da cidade com a sensação de dever cumprido.


De volta em casa coloquei a foto do sobrado no display do meu MSN e a frase: 'Eu fui na casa do Syd Barrett!!!'. Dia seguinte fui bombardeado com mensagens de amigos dizendo: 'N-u-n-c-a o-u-v-i f-a-l-a-r-!-!-!
Que Deus tenha piedade de vós, ó pecadores!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Copy/Paste

E aqui estou eu. De novo.
Embora acredite que depois de tantos blogs começados e mal-acabados ninguém vai levar esse aqui à sério, aqui estou eu. De novo (de novo).

Tenho dois motivos pra começar a escrever um blog:
O primeiro é o motivo estético e proforme. O motivo bonito. Contar minhas viagens pelo mundo, conquistas e derrotas (derrotas essas que sempre serão contadas com um tom de sabedoria e dignidade) e, naturalmente, para contar qualquer outra historia que seja capaz de gerar inveja ao próximo.
O segundo é o motivo verdadeiro: imitar meu irmão.
Mesmo blogger, mesmo layout, mesmo estilo e um título fazendo alusão a alguma música dos Beatles.
Não preciso dizer o quão dificil foi achar um título disponível no blogger. Primeiro tentei 'A Day in the Life'. Clássico! Ultima música do 'Sgt. Pepper's' e título perfeito pra um blog! Tão perfeito que já estava sendo usado. Tentei 'Nowhere Man' que representaria meus sentimentos de imigrante fudido e mal pago e ainda supriria minha necessidade de imitar meu irmão-herói. Usado. Tentei 'Magical Mystery Tour', já que pretendia contar minhas aventuras viajando. Usado. 'Here Comes the Sun', usado. 'In My Life', usado. Já desanimando, tentei 'Hello Goodbye', prevendo que meu blog morreria antes mesmo de ser iniciado. Usado!
Ficou obladioblada mesmo. Ninguém seria idiota de criar um blog com esse nome. A quantidade de hífens em lugares inusitados é tão grande que inviabiliza completamente a divulgação de boca em boca. Eu mesmo não sei. Afinal, qual é a unica maneira de acessar o blog corretamente? Copy/Paste. Agora você sabe. Divulgue.

Enfim, aqui estou eu de novo. De novo. Tudo igualzinho ao meu irmão. Bom, nem tudo. Afinal, qual é a única maneira de escrever tão bem quanto ele? Agora você sabe...